No tempo dos segredos!

Tenho tanto para dizer e esqueci-me das palavras...foram-se perdendo a pouco e pouco e hoje por mais que tente não me consigo lembrar...ou será que apenas me fogem e já não tenho força para as segurar?




















Adeus
 
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
E o que nos ficou não chega
Para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
Gastámos as mãos à força de as apertarmos,
Gastámos o relógio e as pedras das esquinas
Em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro,
Era como se todas as coisas fossem minhas:
Quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
Porque ao teu lado
Todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
Era no tempo em que meus olhos
Eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
Uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
Já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
Tenho a certeza
De que todas as coisas estremeciam
Só de murmurar o teu nome
No silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

   Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro

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2 comentários:

Tite disse...

Miúda!!!!

A vida é feita de...
Fluxos e refluxos...
De voltas e idas.
Tanto "Adeus".
Tantas despedidas.


Está a dar-te para o sentimento? Ou é por que chegámos ao Outono?

Helena Teixeira disse...

Olá Dina!
Queria agradecer a sua participação com comentários na Blogagem de Setembro.E também a sua participação na Blogagem de Outubro.Obrigada :)
Jocas gordas
Lena