Hora que passa
Vejo-me triste, abandonada e só
Bem como um cão sem dono e que o procura
Mais pobre e desprezada do que Job
A caminhar na via da amargura!
Judeu Errante que a ninguém faz dó!
Minh'alma triste, dolorida, escura,
Minh'alma sem amor é cinza, é pó,
Vaga roubada ao Mar da Desventura!
Que tragédia tão funda no meu peito!...
Quanta ilusão morrendo que esvoaça!
Quanto sonho a nascer e já desfeito!
Deus! Como é triste a hora quando morre...
O instante que foge, voa, e passa...
Fiozinho d'água triste... a vida corre...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
Cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
El Amor-José Luis Perales
Quanto a mim esta é uma das mais bonitas canções que se escreveram sobre o amor...
El Amor
Jose Luis Perales
El amor,
es una gota de agua en un cristal
es un paseo largo sin hablar
es una fruta para dos
El amor,
es un espacio en donde no hay lugar
para otra cosas que no sea amar
es algo entre tu y yo
El amor es llorar cuando nos dice adios
el amor es soñar oyendo una cancion
el amor es besar poniendo al corazon
es perdonarme tu y comprenderte yo
el amor es parar el tiempo en un reloj
es buscar un lugar donde escuchar tu voz
el amor es crear un mundo entre los dos
es perdonarme tu y comprenderte yo
El amor,
es una gota con sabor a miel
es una lluvia en el atardecer
es un paraguas para dos
El amor,
es un espacio donde no hay lugar
para otra cosa que no sea amar
es algo entre tu y yo
el amor es llorar cuando nos dice adios
el amor es soñar oyendo una cancion
el amor es besar poniendo el corazon
es perdonarme tu y comprenderte yo
el amor es parar el tiempo en un reloj
es buscar un lugar donde escuchar tu voz
el amor es crear un mundo entre los dos
es perdonarme tu y comprenderte yo
No tempo dos segredos!
Tenho tanto para dizer e esqueci-me das palavras...foram-se perdendo a pouco e pouco e hoje por mais que tente não me consigo lembrar...ou será que apenas me fogem e já não tenho força para as segurar?
Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
E o que nos ficou não chega
Para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
Gastámos as mãos à força de as apertarmos,
Gastámos o relógio e as pedras das esquinas
Em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro,
Era como se todas as coisas fossem minhas:
Quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
Porque ao teu lado
Todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
Era no tempo em que meus olhos
Eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
Uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
Já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
Tenho a certeza
De que todas as coisas estremeciam
Só de murmurar o teu nome
No silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro
Olhos nos Olhos...
Quando voce me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme
Quase enlouqueci
Mas depois como era de costume, obedeci
Quando voce me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos
Quero ver o que voce faz
Ao sentir que sem voce eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando sem mais nem porque
E tantas águas rolaram
Tantos homens me amaram bem mais e melhor que voce
Quando talvez precisar me mim
Voce sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que voce diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
Chico Buarque
Desliguem a rádio que está aí ao lado e oiçam com os olhos do coração...é daquelas músicas que nos deixam com pele de galinha...é uma música que só as mulheres entendem mas que foi escrita por um homem.
Ironias do destino...
Não vá ainda...
O que você quer?
O que você sabe?
Não é fácil prá mim
Meu fogo também me arde
Às vezes
Me vejo tão triste...
Onde você vai?
Não é tão simples assim
Porque às vezes
Meu coração não responde
Só se esconde e dói...
Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Não, não vá ainda...
Me diga como você pode
Viver indo embora
Sem se despedaçar
Por favor me diga agora
Ou será!
Que você nem quer perceber?
Talvez você
Seja feliz sem saber...
Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Não, não vá ainda...
Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Espera anoitecer...
Christian Oyens / Zélia Duncan
A palavra
Magia e cumplicidade!
De magia, sabemos nós, mulheres!
Sonhámos um dia com um mundo mágico em que o amor seria perfeito, em que a alegria seria obrigatória, a juventude de espírito eterna e uma grande paz envolveria o nosso pequeno espaço, mesmo que à volta outros mundos se degladiassem ou mesmo destruíssem.
Os espelhos são velhos companheiros de caminhada, neles procuramos certezas, utopias, confortos e afagos. Ajudaram-nos a descobrir o nosso corpo e confrontaram-nos, tantas vezes, com as nossas almas.
Por isso, este espelho mágico é de mulher para mulher. Podemos perguntar-lhe, vezes sem fim, quem é a mais bonita, a mais feliz ou a mais das mais e ele responderá invariavelmente como nos sonhos. E de sonhos se faz a Magia. Talvez seja altura de a reinventarmos!
Isabel Malho
Todas precisamos de alguma magia na nossa vida...sobretudo quando nos sentimos em baixo e sem energia.
Vou ali comprar uma bola de cristal...já volto!!
Noite de saudade
A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!
Por que és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!
Florbela Espanca
DESDE LOS AFECTOS
Cómo hacerte saber que siempre hay tiempo?
Que uno tiene que buscarlo y dárselo...
Que nadie establece normas, salvo la vida...
Que la vida sin ciertas normas pierde formas...
Que la forma no se pierde con abrirnos...
Que abrirnos no es amar indiscriminadamente...
Que no está prohibido amar...
Que también se puede odiar...
Que la agresión porque sí, hiere mucho...
Que las heridas se cierran...
Que las puertas no deben cerrarse...
Que la mayor puerta es el afecto...
Que los afectos, nos definen...
Que definirse no es remar contra la corriente...
Que no cuanto más fuerte se hace el trazo, más se dibuja...
Que negar palabras, es abrir distancias...
Que encontrarse es muy hermoso...
Que el sexo forma parte de lo hermoso de la vida...
Que la vida parte del sexo...
Que el por qué de los niños, tiene su por qué...
Que querer saber de alguien, no es sólo curiosidad...
Que saber todo de todos, es curiosidad malsana...
Que nunca está de más agradecer...
Que autodeterminación no es hacer las cosas solo...
Que nadie quiere estar solo...
Que para no estar solo hay que dar...
Que para dar, debemos recibir antes...
Que para que nos den también hay que saber pedir...
Que saber pedir no es regalarse...
Que regalarse en definitiva no es quererse...
Que para que nos quieran debemos demostrar qué somos...
Que para que alguien sea, hay que ayudarlo...
Que ayudar es poder alentar y apoyar...
Que adular no es apoyar...
Que adular es tan pernicioso como dar vuelta la cara...
Que las cosas cara a cara son honestas...
Que nadie es honesto porque no robe...
Que cuando no hay placer en las cosas no se está viviendo...
Que para sentir la vida hay que olvidarse que existe la muerte...
Que se puede estar muerto en vida..
Que se siente con el cuerpo y la mente...
Que con los oídos se escucha...
Que cuesta ser sensible y no herirse...
Que herirse no es desangrarse...
Que para no ser heridos levantamos muros...
Que sería mejor construir puentes...
Que sobre ellos se van a la otra orilla y nadie vuelve...
Que volver no implica retroceder...
Que retroceder también puede ser avanzar...
Que no por mucho avanzar se amanece más cerca del sol...
Cómo hacerte saber que nadie establece normas, salvo la vida?
MARIO BENEDETTI ( Uruguay, 1920 )
imagem: quadro de Jecheca
À mercê duma saudade
O amor anda à mercê duma saudade
Com ele anda sempre a ilusão
O nosso amor não tem a mesma idade
Mas tem a mesma lei no coração
Sabemos qual a ânsia da chegada
E nunca recordamos a partida
Trazemos na memória renegada
A dor de uma distância sem saída
Existem entre nós sonhos calados
Que a vida não permite acontecer
Por vezes sigo os teus olhos parados
E sinto que é por ti que vou viver
Recuso lamentar a minha entrega
Teus braços são a minha liberdade
O amor é fantasia que nos cega
Aldina Duarte
Complicadíssima teia
Quem põe certezas na vida
Facilmente se embaraça
Na vil comédia do amor;
Não vale a pena ter alma
Porque o melhor é andarmos
Mentindo seja a quem for
Gosto de saber que vives,
Mas não perdi a cabeça
Nem corro atrás do desejo;
Quem se agarra muito ao sonho
Vê o reverso da vida
Nos movimentos dum beijo.
Ando queimado por dentro
De sentir continuamente
Uma coisa que me rala;
Nem no meu olhar o digo
Que estes segredos da gente
Não devem nunca ter fala.
Talvez não saibas que o amor,
Apesar das suas leis,
Desnorteia os corações;
- Complicadíssima teia
Onde se perde o bom senso
E as mais sagradas razões.
António Botto
Escada sem corrimão
É uma escada em caracol
E que não tem corrimão.
Vai a caminho do sol
Mas nunca passa do chão.
Os degraus, quanto mais altos,
Mais estragados estão,
Nem sustos nem sobressaltos
Servem sequer de lição.
Quem tem medo não a sobe,
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
O lastro do coração.
Sobe-se numa corrida,
Corre-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
A escada sem corrimão.
David Mourão Ferreira